Tensão, ansiedade, surpresa e muitas alegrias. Marcos Ribeiro segurando seu filhinho pela primeira vez.
Todos tinham certeza que ele não resistiria. A única dúvida era em qual momento do parto o “valente” pai desabaria. Os familiares estavam eufóricos, afinal, já são nove anos de casamento e o esperado filho chegaria naquela noite quente de quinta feira. A cunhada Judite foi a única da família que pode comparecer ao hospital El Kadri, no centro de Campo Grande, as 18h45min do último dia 19. Ela é a parenta mais próxima, mora na cidade de Dourados a cerca de 220 quilômetros da capital.
A cirurgia estava marcada para 19h30min. Faltavam 40minutos quando a gestante Maria José Alves da Silva muito tranquilamente se aproximou do luxuoso balcão marmorizado da maternidade e começou a responder algumas perguntas à recepcionista para regularização de sua entrada no hospital. Morena clara, 26 anos, cabelos pouco a baixo do ombro, um metro e cinqüenta e quatro, pernambucana Sotaque sul mato-grossense resultante dos 20 anos de emigração, pés e braços muito pouco inchados, em compensação uma barriga enorme.
Foram informados que haveriam de pagar uma taxa adicional de R$100, 00, para o instrumentista, porque o plano da Unimed não cobriria essa despesa, o pai precisou contar literalmente suas moedas, mas não reclamou, nada era mais importante de que observar os minutos no visor do seu celular Nókia 6101 preto e com algumas marcas de quedas. Uma surpresa, outra taxa de R$ 100,00 reais, dessa vez para poder assistir o parto. Já não havia mais recursos e nem tempo para providenciar o valor, nada adiantou argumentação e questionamento do casal feito à recepcionista de estatura mediana, aparentemente uns 29 anos de idade e impaciente pelo atraso da funcionária que deveria ter assumido o seu lugar há alguns minutos.
O pai foi autorizado subir ao terceiro andar, somente para levar a bolsa azul da esposa até o quarto onde ela passaria a noite, depois retornar à recepção e aguardar até que fosse concluído o trabalho de parto. A mãe estava em cólicas, mas não era contração e sim frustração, afinal, a Samsung de 7.1 megapixels estava preparada com seu cartão de um giga com capacidade para quatorze minutos de filmagem no formato 640x480 e quatro pilhas Sony que passaram a noite anterior todinha no carregador, tudo para registrar aquele que era pra ser um momento só de alegria.
Ao subir o elevador e acompanhar a esposa até a entrada do centro cirúrgico, ele não estava nada satisfeito em ter que retornar à recepção. Uma simpática enfermeira permitiu que então pudesse aguardar em uma salinha confortável, bem ao lado direito da entrada da sala de cirurgia. Um novo ânimo surgiu e com ele um sorriso se estampara no rosto do futuro papai. A futura tia Judite também estava na salinha ao lado .
Durante a preparação, na mesa de cirurgia a jovem doutora Maria Auxiliadora, (a Dórinha), perguntou: “Mamãe não esta faltando nada, cadê o Papai”? Maria não perdeu tempo: “Ah, doutora... Tivemos que pagar “cenhão” do instrumentista e pagaríamos mais cem para meu esposo poder assistir... Não deu, estamos sem grana”. Doutora Dórinha rapidamente foi à porta da salinha olhou para os lados e perguntou baixinho: ”Papai quer assistir o parto”? Rapidamente se levantou deixou com a cunhada o que tinha em mãos e com um sorriso incontrolável no rosto se vestiu as pressas com uma roupa verde escura, toca, pantufas e máscara branca. A falta de prática com a mascara fazia com que o ar quente de sua respiração acelerada, embaçasse os seus óculos, aos poucos ia se familiarizando com o ambiente e prestava atenção em tudo ao seu redor.
Não era sem motivo que desconfiavam que ele não conseguisse assistir o nascimento do seu primogênito. Não suporta ver sangue. Quando tinha 16 anos desmaiou porque cortou superficialmente o dedo mindinho afiando a lamina de uma maquina em uma marcenaria, isso no seu segundo emprego formal. Cinco anos depois trabalhava em um frigorífico. Certo dia sofreu um corte próximo ao pulso, desta vez, a gozação foi menor, pois ficou pálido, teve vertigens, levou dez pontos, mas, não precisou ir ao hospital, tudo resolvido no ambulatório da empresa mesmo.
A idéia inicial de assistir o parto foi da esposa, que insistia tentando convence-lo. Depois de muitas tentativas desistiu, pois só de começar falar do procedimento ele já sentia um leve mal estar. Quando disse estar decidido a filmar o parto, parentes e amigos duvidaram, principalmente a esposa.
Pois bem, quando tudo estava preparado, doutora Dórinha se posicionou a direita, duas auxiliares a esquerda, o pediatra próximo aos pés, o instrumentista a direita do canto superior da gestante. Lá estava o futuro papai, acariciando o rosto de sua esposa observando os seus olhos avermelhados, sua pele pálida e sua fala descompassada.
A doutora perguntou: ”papai quer ver mais de perto”? Respondeu: “não ouvi”, se inclinando em direção à médica. No mesmo instante que a mãe gritou: “Não”, subiu umas gotas de sangue que salpicaram a roupa da médica, o pai agradeceu. A doutora disse: “Vai nascer!”. Nesse momento ouviu se um grito de criança, forte e agudo, Dórinha disse: “que grandão!”, o pai exclamou: “É cabeludo nega!”, uma das enfermeiras conduziu o bebê peludinho a uma espécie de estufa onde ela e o pediatra Dr. Edimar começaram a limpa-lo. No relógio marcava exatamente 20h10min.
Ali mesmo a criança recebeu a primeira vacina. Uma pulseirinha foi colocada em seu tornozelinho, mediram, pesaram e continuavam a limpar. O pai não conseguia prestar atenção nas orientações do pediatra, só queria filmar bem de pertinho o rosto do seu lindo filho, que nasceu com 48 centímetros, 3 quilos e trezentos gramas.
Depois de limpinho e todo embrulhado o bebê foi entregue ao pai, que estava transbordando de tanta alegria por poder embalar a criança antes que a mamãe. Cheirava o rostinho e tentava encostar sua face na pele rosadinha do bebê, ainda se atrapalhando com a máscara do hospital, neste instante o bebê parou de chorar e soluçava forte. Olhou para o recém nascido por alguns instantes e então o levou para encostá-lo no rosto da mamãe, as lágrimas dela foram inevitáveis, ouviam-se muitos elogios.
Os médicos terminaram todo o procedimento da cirurgia, elogiaram o pai por se fazer presente e principalmente pela sorte de ter um bebê tão bonito. Enquanto levaram a mamãe para o apartamento, o pai acompanhava o bebê em outra sala muito atentamente. Novamente pesaram, mediram, carimbaram um documento com o pezinho da criança e em fim o primeiro banho, dado pela simpática enfermeira que colaborou com muito para que o pai pudesse participar daquele momento.
Depois que Maria já estava pronta em sua cama e o bebê saboreando sua primeira amamentada, o pai saiu para comprar dois X bagunçinhas e uma coca dois litros, pra ele e para Judite, que estava sem se alimentar deis do meio dia ela também iria dormir no hospital. Sem conseguir parar de sorrir, o pai agradeceu a todos e foi pra casa.
Chegando a sua residência, rapidamente foi rever os vídeos, escolher as melhores fotos e postar no Orkut. Outra surpresa. No exato momento que postou a primeira foto, em menos de um minuto recebeu um comentário. Ficou abismado e pensativo por instantes, com a rapidez e eficiência da internet. Seu amigo viu as fotos na Irlanda, menos de quatro horas após o nascimento, antes de pessoas teoricamente mais próximas, como exemplo os avós. Com certeza esse foi um dia muito especial completamente inesquecível.
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Todos tinham certeza que ele não resistiria. A única dúvida era em qual momento do parto o “valente” pai desabaria. Os familiares estavam eufóricos, afinal, já são nove anos de casamento e o esperado filho chegaria naquela noite quente de quinta feira. A cunhada Judite foi a única da família que pode comparecer ao hospital El Kadri, no centro de Campo Grande, as 18h45min do último dia 19. Ela é a parenta mais próxima, mora na cidade de Dourados a cerca de 220 quilômetros da capital.
A cirurgia estava marcada para 19h30min. Faltavam 40minutos quando a gestante Maria José Alves da Silva muito tranquilamente se aproximou do luxuoso balcão marmorizado da maternidade e começou a responder algumas perguntas à recepcionista para regularização de sua entrada no hospital. Morena clara, 26 anos, cabelos pouco a baixo do ombro, um metro e cinqüenta e quatro, pernambucana Sotaque sul mato-grossense resultante dos 20 anos de emigração, pés e braços muito pouco inchados, em compensação uma barriga enorme.
Foram informados que haveriam de pagar uma taxa adicional de R$100, 00, para o instrumentista, porque o plano da Unimed não cobriria essa despesa, o pai precisou contar literalmente suas moedas, mas não reclamou, nada era mais importante de que observar os minutos no visor do seu celular Nókia 6101 preto e com algumas marcas de quedas. Uma surpresa, outra taxa de R$ 100,00 reais, dessa vez para poder assistir o parto. Já não havia mais recursos e nem tempo para providenciar o valor, nada adiantou argumentação e questionamento do casal feito à recepcionista de estatura mediana, aparentemente uns 29 anos de idade e impaciente pelo atraso da funcionária que deveria ter assumido o seu lugar há alguns minutos.
O pai foi autorizado subir ao terceiro andar, somente para levar a bolsa azul da esposa até o quarto onde ela passaria a noite, depois retornar à recepção e aguardar até que fosse concluído o trabalho de parto. A mãe estava em cólicas, mas não era contração e sim frustração, afinal, a Samsung de 7.1 megapixels estava preparada com seu cartão de um giga com capacidade para quatorze minutos de filmagem no formato 640x480 e quatro pilhas Sony que passaram a noite anterior todinha no carregador, tudo para registrar aquele que era pra ser um momento só de alegria.
Ao subir o elevador e acompanhar a esposa até a entrada do centro cirúrgico, ele não estava nada satisfeito em ter que retornar à recepção. Uma simpática enfermeira permitiu que então pudesse aguardar em uma salinha confortável, bem ao lado direito da entrada da sala de cirurgia. Um novo ânimo surgiu e com ele um sorriso se estampara no rosto do futuro papai. A futura tia Judite também estava na salinha ao lado .
Durante a preparação, na mesa de cirurgia a jovem doutora Maria Auxiliadora, (a Dórinha), perguntou: “Mamãe não esta faltando nada, cadê o Papai”? Maria não perdeu tempo: “Ah, doutora... Tivemos que pagar “cenhão” do instrumentista e pagaríamos mais cem para meu esposo poder assistir... Não deu, estamos sem grana”. Doutora Dórinha rapidamente foi à porta da salinha olhou para os lados e perguntou baixinho: ”Papai quer assistir o parto”? Rapidamente se levantou deixou com a cunhada o que tinha em mãos e com um sorriso incontrolável no rosto se vestiu as pressas com uma roupa verde escura, toca, pantufas e máscara branca. A falta de prática com a mascara fazia com que o ar quente de sua respiração acelerada, embaçasse os seus óculos, aos poucos ia se familiarizando com o ambiente e prestava atenção em tudo ao seu redor.
Não era sem motivo que desconfiavam que ele não conseguisse assistir o nascimento do seu primogênito. Não suporta ver sangue. Quando tinha 16 anos desmaiou porque cortou superficialmente o dedo mindinho afiando a lamina de uma maquina em uma marcenaria, isso no seu segundo emprego formal. Cinco anos depois trabalhava em um frigorífico. Certo dia sofreu um corte próximo ao pulso, desta vez, a gozação foi menor, pois ficou pálido, teve vertigens, levou dez pontos, mas, não precisou ir ao hospital, tudo resolvido no ambulatório da empresa mesmo.
A idéia inicial de assistir o parto foi da esposa, que insistia tentando convence-lo. Depois de muitas tentativas desistiu, pois só de começar falar do procedimento ele já sentia um leve mal estar. Quando disse estar decidido a filmar o parto, parentes e amigos duvidaram, principalmente a esposa.
Pois bem, quando tudo estava preparado, doutora Dórinha se posicionou a direita, duas auxiliares a esquerda, o pediatra próximo aos pés, o instrumentista a direita do canto superior da gestante. Lá estava o futuro papai, acariciando o rosto de sua esposa observando os seus olhos avermelhados, sua pele pálida e sua fala descompassada.
A doutora perguntou: ”papai quer ver mais de perto”? Respondeu: “não ouvi”, se inclinando em direção à médica. No mesmo instante que a mãe gritou: “Não”, subiu umas gotas de sangue que salpicaram a roupa da médica, o pai agradeceu. A doutora disse: “Vai nascer!”. Nesse momento ouviu se um grito de criança, forte e agudo, Dórinha disse: “que grandão!”, o pai exclamou: “É cabeludo nega!”, uma das enfermeiras conduziu o bebê peludinho a uma espécie de estufa onde ela e o pediatra Dr. Edimar começaram a limpa-lo. No relógio marcava exatamente 20h10min.
Ali mesmo a criança recebeu a primeira vacina. Uma pulseirinha foi colocada em seu tornozelinho, mediram, pesaram e continuavam a limpar. O pai não conseguia prestar atenção nas orientações do pediatra, só queria filmar bem de pertinho o rosto do seu lindo filho, que nasceu com 48 centímetros, 3 quilos e trezentos gramas.
Depois de limpinho e todo embrulhado o bebê foi entregue ao pai, que estava transbordando de tanta alegria por poder embalar a criança antes que a mamãe. Cheirava o rostinho e tentava encostar sua face na pele rosadinha do bebê, ainda se atrapalhando com a máscara do hospital, neste instante o bebê parou de chorar e soluçava forte. Olhou para o recém nascido por alguns instantes e então o levou para encostá-lo no rosto da mamãe, as lágrimas dela foram inevitáveis, ouviam-se muitos elogios.
Os médicos terminaram todo o procedimento da cirurgia, elogiaram o pai por se fazer presente e principalmente pela sorte de ter um bebê tão bonito. Enquanto levaram a mamãe para o apartamento, o pai acompanhava o bebê em outra sala muito atentamente. Novamente pesaram, mediram, carimbaram um documento com o pezinho da criança e em fim o primeiro banho, dado pela simpática enfermeira que colaborou com muito para que o pai pudesse participar daquele momento.
Depois que Maria já estava pronta em sua cama e o bebê saboreando sua primeira amamentada, o pai saiu para comprar dois X bagunçinhas e uma coca dois litros, pra ele e para Judite, que estava sem se alimentar deis do meio dia ela também iria dormir no hospital. Sem conseguir parar de sorrir, o pai agradeceu a todos e foi pra casa.
Chegando a sua residência, rapidamente foi rever os vídeos, escolher as melhores fotos e postar no Orkut. Outra surpresa. No exato momento que postou a primeira foto, em menos de um minuto recebeu um comentário. Ficou abismado e pensativo por instantes, com a rapidez e eficiência da internet. Seu amigo viu as fotos na Irlanda, menos de quatro horas após o nascimento, antes de pessoas teoricamente mais próximas, como exemplo os avós. Com certeza esse foi um dia muito especial completamente inesquecível.